Dexametasona demonstra redução do risco de óbito por COVID-19, segundo versão preliminar de estudo britânico

A despeito de um estudo recente ter demonstrado um pequeno benefício expresso por encurtamento do tempo para melhora clínica com o uso do antiviral remdesivir[i], ainda não disponível no Brasil, permanecemos num cenário de escassez de evidências de eficácia real de tratamentos medicamentosos para a COVID-19, assim como um crescente corpo de publicações evidenciando potenciais eventos adversos de alguns deles, como a cloroquina ou hidroxicloroquina.

Partindo do entendimento de que uma considerável determinante da gravidade e prognóstico dos pacientes com infecções pelo SARS-CoV-2 é a nossa própria resposta imunológica, diversos estudos foram endereçados a modular ou conter esta cascata de eventos inflamatórios, objetivando, assim, reduzir a mortalidade, especialmente nos casos mais graves da doença.

Publicado no dia 16/6/2020 em versão “pre print” (ainda não submetido, revisto e aprovado por um grupo independente do corpo editorial de um periódico científico), o estudo Recovery[ii] (Randomized Evaluation of COVid-19 thERapY) avaliou a segurança e eficácia da dexametasona na dose de 6mg (oral ou intravenosa) uma vez ao dia, comparada aos cuidados de suporte clínico em 6425 pacientes, aleatorizados na proporção de 2:1 (2 pacientes no grupo controle para cada um paciente no braço experimental do estudo).

Os dados preliminares deste estudo sugerem uma redução do risco de morte de 35% (RR de 0,65; IC95% 0,48-0,88; p=0,0003; com redução absoluta de 40% para 28%) em 28 dias nos pacientes graves (intubados, sob ventilação mecânica) e da ordem de 20% (RR=0,80; IC95% 0,67-0,96; p=0,0021; com redução absoluta de 25% para 20%) em pacientes sob suplementação de oxigênio. O estudo não evidenciou benefício em pacientes com quadros leves, sem hipoxemia.

Nas palavras de um dos pesquisadores: “Dexametasona é o primeiro medicamento que demonstra melhora da sobrevida em COVID-19. Este é um resultado extremamente bem-vindo, mostrando essa melhora nos pacientes que necessitam oxigênio suplementar e naqueles em ventilação mecânica”.

Os membros dessa comissão científica da SPPT aguardam com bastante otimismo a publicação destes resultados.

Dr. André Nathan Costa
Subcomissão de Infecções Respiratórias e Micoses

Dr. Gustavo Faibischew Prado
Diretor de Assuntos Científicos

Referencias:


[i] https://www.nejm.org/doi/full/10.1056/NEJMoa2007764

[ii] https://www.recoverytrial.net/files/recovery-protocol-v6-0-2020-05-14.pdf

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