Série 1: Métodos Diagnósticos em Pneumologia – Ergoespirometria

teste de exercício cardiopulmonar (TECP) ou ergoespirometria é um teste reprodutível, limitado por sintomas e de maior complexidade do que o teste ergométrico. Pode ser realizado em esteira rolante ou cicloergômetro (bicicleta) na maior parte dos laboratórios de fisiologia do exercício. Para atletas podem ser feitas variações conforme a modalidade, utilizando-se aparelhos portáteis em algumas situações. O protocolo utilizado é em rampa, incremental, com duração de 7-12 min, para obtenção de um teste máximo e compreensão da interação entre os sistemas cardiocirculatório, ventilatório e muscular. Testes de carga constante também podem ser realizados após um teste incremental máximo, principalmente para avaliação pós-intervenção.

As principais indicações deste exame são para avaliação de:

  • Dispneia (falta de ar ou cansaço) aos esforços ou de sintomas desproporcionais em relação à doença de base;
  • Gravidade e prognóstico, especialmente nas doenças respiratórias e cardiovasculares;
  • Pré-operatório, como nas cirurgias de tórax para ressecção pulmonar ou cirurgias de grande porte, como abdominais;
  • Pré-transplante cardíaco (no transplante pulmonar seu papel ainda não está definido);
  • Pré e pós-reabilitação cardíaca ou pulmonar, para determinação do treinamento e avaliação da melhora durante e após o programa de reabilitação;
  • Para atletas e esportistas, na prescrição do treinamento e acompanhamento do desempenho, além de avaliação de risco cardiovascular;
  • Avaliação pós-intervenção medicamentosa;
  • Diagnóstico de broncoespasmo induzido pelo exercício.

Os dados mais utilizados do teste são:

  • O consumo máximo de oxigênio (V’O2max)
  • Determinação dos limiares, chamados por exemplo de limiar I (ou limiar de lactato ou limiar anaeróbico) e limiar II (ou ponto de compensação respiratório);
  • Entretanto, além do V’O2max e dos limiares, outras variáveis devem ser analisadas:
  • Respostas cardiovasculares: observar o comportamento da pressão arterial, da frequência cardíaca em relação a demanda metabólica, do pulso O2 (que indiretamente reflete o volume sistólico) e da relação entre o V’O2-carga; é fundamental a avaliação eletrocardiográfica contínua para avaliar resposta isquêmica ou arritmias;
  • Respostas ventilatórias e de trocas gasosas: avaliar a reserva ventilatória (sendo necessário uma espirometria ou medida da ventilação voluntária máxima antes do teste), medida da capacidade inspiratória, resposta da ventilação minuto para produção de dióxido de carbono (CO2), pressão expiratória final de CO2 e saturação periférica de O2;
  • Importante avaliar a sensação de desconforto respiratório ou muscular durante o exercício e entender qual foi o principal sintoma limitante, avaliado pela escala de Borg, ou outros sintomas, como pré-síncope (tontura) ou angina (dor no peito).
  • Pode ser acrescentado a coleta de gasometria arterial (ou de sangue arterializado de lobo de orelha) para avaliação de trocas gasosas ou dosagem de lactato durante o exercício;

Em relação à segurança do teste, o risco de complicações é baixo, desde que alguns cuidados sejam tomados:

Avaliar antes de iniciar o teste (maior risco para o exame e considerar suspensão do mesmo)

  • Hipoxemia – SpO2 < 88%
  • Hipertensão arterial sistêmica PAS > 160 mmHg ou PAD > 100 mmHg
  • Síncope recente (nos últimos 30 dias)
  • Arritmia não controlada

Durante o teste (critérios para interrupção do exame):

  • Dessaturação significativa durante o exame (SpO2 < 80%)
  • Hipertensão arterial sistêmica PAS > 230 mmHg ou PAD > 130 mmHg
  • Redução da PAS em mais de 10mmHg em relação a medida anterior
  • Sinais de baixo débito cardíaco ou alteração de perfusão
  • Surgimento de taquiarritmias ou novo bloqueio de ramo esquerdo
  • Angina de intensidade moderada a intensa durante o exercício

O laboratório de ergoespirometria é estruturado com os seguintes equipamentos:

  • Carro metabólico acoplado a um monitor para eletrocardiograma contínuo
  • Pelo menos um ergômetro (bicicleta e/ou esteira)
  • Oxímetro de pulso
  • Esfigmomanômetro (automático ou manual)

A equipe é composta de pelo menos um médico e um técnico, ambos experientes na realização do exame e em suporte avançado de vida. O laudo, em geral, é realizado pelo médico examinador, sendo fundamental sua formação em fisiologia do exercício.

Eloara Vieira Machado Ferreira Álvares da Silva Campos
Pneumologista. Professora Adjunta & Supervisora do Programa de Residência Médica em Pneumologia. Setores de Circulação Pulmonar e Função Pulmonar e Fisiologia Clínica do Exercício (SEFICE), Disciplina de Pneumologia, Unifesp/EPM. Médica do Laboratório de Função Pulmonar Avançada e Ergoespirometria, Medicina Diagnóstica, Hospital Sírio Libanês.

Referências bibliográficas:
1. ERS Monograph 2018, Clinical Exercise Testing.Edited by Paolo Palange, PierantonioLaveneziana, J. Alberto Neder and Susan A. Ward. Book | Published in 2018 DOI: 10.1183/2312508X.erm8018. ISBN (electronic): 978-1-84984-096-5
2. Mont L, Pelliccia A, Sharma S, et al. Pre-participation cardiovascular evaluation for athletic participants to prevent sudden death: Position paper from the EHRA and the EACPR, branches of the ESC. Endorsed by APHRS, HRS, and SOLAECE. Eur Prev J Cardiol 2017:24:41-69 https://www.ncbi.nlm.nih.gov/m/pubmed/27815537/i=1&from=mont%20l%20and%20pre%20participation
3. Wijeysundera DN, Pearse RM, Shulman MA, et al.Assessment of functional capacity before major non-cardiac surgery: an international, prospective cohort study. Lancet 2018; 391: 2631–40

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Dra. Eloara Campos – Diretora de Divulgação da SPPT

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