As doenças pulmonares crônicas são progressivas e levam a comprometimentos extrapulmonares que contribuem para a morbidade e mortalidade nessa população. Embora fazendo uso da máxima terapêutica medicamentosa (broncodilatadores, corticosteroides, oxigenoterapia, etc), os doentes pulmonares crônicos continuam queixando-se de sintomas debilitantes como a dispneia e fadiga. Neste contexto, a reabilitação pulmonar é a terapia não farmacológica que traz benefícios substanciais e, portanto, tem sido considerada mandatória no manejo desses indivíduos.
O programa de reabilitação pulmonar é composto de treinamento físico, intervenções nutricionais, sessões educacionais e suporte psicológico, ambas voltadas para o auto manejo e mudança de comportamento. Por isso, a necessidade de uma equipe composta por diversos profissionais da área da saúde. Dentre esses componentes, o treinamento aeróbio (endurance) constitui a principal estratégia para melhorar a tolerância ao esforço. É comumente realizado em esteira ou bicicleta ergométrica, de três a cinco vezes por semana, por 20 a 60 minutos, a uma intensidade acima de 60% da taxa máxima de trabalho. O treinamento aeróbio de alta intensidade é recomendado, pois determina maiores benefícios fisiológicos quando comparado ao de baixa intensidade.
O treinamento de força tem sido adicionado ao treinamento aeróbio, pois é específico para determinar aumento de massa e força musculares, as quais estão relacionadas à sobrevida, ao uso de serviços de saúde e à capacidade de exercício em pneumopatas. Geralmente são realizadas uma a três séries, de 8 a 12 repetições, com carga de 50 a 85% da força máxima para cada agrupamento muscular (membros superiores e inferiores), de duas a três vezes na semana. O treinamento específico da musculatura respiratória torna-se interessante para aqueles sujeitos que apresentam fraqueza muscular respiratória (pressão inspiratória máxima -60 cmH2O). Entretanto, os resultados têm sido conflitantes em termos de melhora da capacidade funcional, dispneia e qualidade de vida. Neste sentido, não há evidências que justifiquem o seu uso rotineiro na reabilitação pulmonar, devendo ser avaliado em cada caso.
O programa educacional, voltado para o auto manejo da doença, em combinação com o suporte psicológico, englobando intervenções comportamentais, são importantes para a manutenção dos benefícios e para que o indivíduo se conscientize da importância de reduzir o comportamento sedentário e se manter fisicamente ativo mesmo após o término do programa.
Mediante a pouca disponibilidade de centros de reabilitação pulmonar e as barreiras que impedem o indivíduo de frequentar e/ou finalizar o programa, a reabilitação domiciliar é uma opção e tem apresentando resultados similares à reabilitação ambulatorial quanto à redução da dispneia, ao aumento da capacidade de exercício e à melhora da qualidade de vida (12, 13).
A reabilitação pulmonar deve ser incorporada como uma das intervenções a serem indicadas para o tratamento de indivíduos com doença pulmonar crônica. Sem dúvida, o treinamento físico (aeróbio e resistido) é um dos componentes essenciais para o programa de reabilitação. Há evidências, baseadas em meta-análises, demonstrando aumento da capacidade funcional, redução da dispneia e melhora da qualidade de vida na doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC), fibrose cística, hipertensão pulmonar e doença pulmonar intersticial. Além disso, na DPOC e bronquiectasia, também tem sido relatada diminuição na frequência de exacerbações e, consequentemente, no número de internações e procura por serviços de saúde.
Simone Dal Corso
Fisioterapeuta. Doutora e Pós-doutora pela Universidade Federal de São Paulo. Professora do Programa de Mestrado e Doutorado em Ciências da Reabilitação da Universidade Nove de Julho, São Paulo.
José Carlos Rodrigues Junior
Fisioterapeuta. Especialista em Fisioterapia Cardiorrespiratória pelo Instituto do Coração do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP. Mestre em Ciências da Reabilitação -Universidade Nove de Julho, São Paulo, SP
Referências
Beaumont M, Forget P, Couturaud F, Reychler G. Effects of inspiratory muscle training in COPD patients: A systematic review and meta-analysis. Clin Respir J 2018; 12:2178-2188.
Liao WH, Chen JW, Chen X, et al. Impact of resistance training in subjects with COPD: A systematic review and meta-analysis. Respir Care 2015;60:1130–45.
Liu XL, Tan JY, Wang T, et al. Effectiveness of home-based pulmonary rehabilitation for patients with chronic obstructive pulmonary disease: a meta-analysis of randomized controlled trials. Rehabil Nurs. 2014;39(1):36–59.
Spruit MA, Singh JS, Garvey C, ZuWallack R, Nici L, Rochester C, et al. An Official American Thoracic Society/European Respiratory Society Statement: Key Concepts and Advances in Pulmonary Rehabilitation. Am J Respir Crit Care Med. 2013; 188:e13–e64.
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