A medida dos volumes pulmonares é um exame de função pulmonar complexo que permite ao pneumologista saber exatamente qual a capacidade pulmonar de um indivíduo e quais alterações são responsáveis pelos sintomas apresentados, como por exemplo, na avaliação da falta de ar (dispneia). A determinação destes parâmetros (Figura 1) complementa a espirometria e oferece informações essenciais para a caracterização das doenças pulmonares.
Como é realizado o exame?
Os volumes pulmonares podem ser avaliados através de três métodos funcionais:
1. Pletismografia de corpo inteiro
2. Wash Out (Lavagem) de nitrogênio e
3. Diluição dos gases inertes
Em indivíduos normais e pacientes com doenças restritivas, todos dão resultados semelhantes. Em pacientes com doenças obstrutivas, os dois últimos métodos podem subestimar significativamente os volumes obtidos por pletismografia. Do ponto de vista técnico, todos os métodos descritos medem a capacidade residual funcional (CRF). A esta medida soma-se a capacidade inspiratória (CI) e obtém-se a capacidade pulmonar total (CPT). O volume residual (VR) é obtido subtraindo a capacidade vital (CV) da CPT. Dos quatro volumes e das quatro capacidades pulmonares, três são essenciais pela sua importância fisiopatológica na avaliação funcional pulmonar: a CPT, a CRF e o VR. Igualmente, as relações VR/CPT e CRF/CPT tem importância diagnóstica. A CV é dependente das alterações ao nível do VR e da CPT.
A pletismografia de corpo inteiro é o método padrão-ouro de medida dos volumes pulmonares. De forma simplificada, o paciente senta-se em uma cabine hermeticamente fechada conectada a um bucal e arfa contra uma válvula fechada ao nível da CRF. O volume de gás torácico é calculado pela inclinação da curva de pressão-volume obtida pela compressão e descompressão do gás dentro do tórax durante a manobra. Comparado aos outros métodos, é um teste mais rápido, facilmente reprodutível e mais acurado. A principal desvantagem é o tamanho e o custo do equipamento.
Como entender os resultados?
Na prática, a medida dos volumes pulmonares é particularmente útil nas seguintes situações:
1. Confirmar a presença de um distúrbio ventilatório restritivo. Os distúrbios restritivos caracterizam-se por redução dos volumes pulmonares. A redução da CV na espirometria tem baixo valor preditivo positivo para diagnóstico de restrição. Nestes casos, a presença de CPT abaixo dos valores previstos é o único parâmetro com acurácia de 100% para o diagnóstico de restrição. O VR e a relação VR/CPT podem ser usados para identificar a causa da restrição. Nas doenças parenquimatosas (doenças intersticiais fibrosantes, por exemplo), o VR e a CPT estão proporcionalmente reduzidos e, portanto, a relação VR/CPT está normal; nas doenças da parede torácica (doenças neuromusculares, cifoescoliose, etc.), o VR está normal (pode estar aumentado nas doenças neuromusculares), a CPT encontra-se reduzida e, portanto, a relação VR/CPT está elevada.
2. Caracterizar a redução da capacidade vital. A CV representa o maior valor de ar mobilizado a partir de uma inspiração máxima. Compreende três volumes primários: volume corrente, volume de reserva inspiratória e volume de reserva expiratória e, em indivíduos normais, corresponde a 70-75% da CPT. A redução da CVF é um achado frequente nos exames de rotina e, pode ser decorrente de vários fatores: restrição, aprisionamento aéreo, obesidade, entre outros. Nestes casos, a medida dos volumes pulmonares é fundamental.
3. Avaliação complementar nos distúrbios obstrutivos. Nas doenças obstrutivas, principalmente na DPOC, pode haver aprisionamento aéreo (↑ VR) levando à hiperinsuflação (↑ CPT) e, consequentemente, dispneia e intolerância ao exercício. Além destes volumes absolutos, a utilização da relação entre eles tem significado prognóstico. Na DPOC, uma razão CI/CPT reduzida (<25%) é um marcador independente de mortalidade. Caso as medidas sejam realizadas após broncodilatador, pode-se avaliar a resposta através da redução do VR (> 0,40 L).
Os valores de referência sugeridos para comparação com os valores obtidos são os derivados de Crapo et al e Neder et al. Em indivíduos normais, o VR representa aproximadamente 25% da CPT e a CRF por volta de 40%. Os valores obtidos podem ser utilizados para classificação dos distúrbios como descrito na Tabela 1.
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Dr. Marcelo Macchione
Doutor em Pneumologia pela FMUSP, Professor de Pneumologia do Centro Universitário Padre Albino, Faculdade de Medicina de Catanduva. Responsável pela Subcomissão de Função Pulmonar da SPPT.
Links:
1. Series ‘‘ATS/ERS Task Force: Standardisation Of Lung Function Testing’’ https://www.thoracic.org/statements/resources/pfet/pft3.pdf
2. Methods for Measuring Lung Volumes: Is There a Better One? https://www.karger.com/Article/Pdf/444418
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Dra. Eloara Campos – Diretora de Divulgação da SPPT